Formalizado o acerto que levou o PDT a integrar a governo Tarso Genro
(PT), o presidente dos pedetistas no Estado, Romildo Bolzan Júnior, diz
que a prioridade é auxiliar o prefeito José Fotunati (PDT) a chegar em
2012 em condições de tentar a reeleição. Para Bolzan, a prefeitura de
Porto Alegre é estratégica para o PDT se posicionar como partido forte
no cenário político e alçar Fortunati ao status de liderança estadual.
Nesta
entrevista, o também prefeito de Osório avalia o resultado do pleito
deste ano. Relata que o partido irá trabalhar para se manter afinado com
o futuro governo petista sem perder a autonomia. Ele ainda afirma que a
sigla levou em conta o histórico de rompimentos com outras gestões para
indicar Afonso Motta para o Gabinete dos Prefeitos e Kalil Sehbe para a
Secretaria de Esporte e Lazer.
Jornal do Comércio - O PDT sai satisfeito da negociação para integrar o governo?
Jornal do Comércio - O PDT sai satisfeito da negociação para integrar o governo?
Romildo Bolzan Júnior -
O partido tinha um pleito. Não foi possível fazer isso por inteiro, mas
estamos satisfeitos. O partido vai participar plenamente do governo na
transversalidade, termo da moda e que o governo cunhou para estabelecer
a participação. Foi a melhor negociação possível. Chegamos depois, não
fizemos parte de nenhuma estratégia escusa durante a eleição, tivemos
posição num projeto que tinha a prefeitura de Porto Alegre como fator
importante. Não chegamos com capacidade de exigir muito além do que
obtivemos.
JC - A participação no governo é prêmio de consolação?
Bolzan -
Não. O governador disse que iria procurar o PDT para fazer parte do
governo. Fomos convidados, não corremos atrás. Quando ele fez a
formalização do convite, ao final do primeiro turno, dissemos: “Estamos
examinando toda a situação. Vamos encaminhar isso internamente e no
momento oportuno, possivelmente depois do segundo turno, comunicaremos
como ele se desenvolveu”. E foi exatamente assim, passado o segundo
turno, fizemos o contato. Fizemos um processo de consulta interna onde
as 30 coordenadorias responderam afirmativamente à participação no
governo.
JC – Mas houve oposição.
Bolzan -
Apenas uma coordenadoria, o diretório metropolitano de Porto Alegre,
respondeu negativamente. No processo de voto foram 108 a 51. Estamos
entrando baseados em uma decisão que não é consensual, mas majoritária.
Há expectativa de que nossos problemas de relacionamento em governos que
participamos anteriormente não se repitam (o PDT rompeu com o
governador Olívio Dutra (PT), que governou o Estado de 1999 a 2002,
exigindo que os correligionários deixassem os cargos. A mesma situação
se repetiu no primeiro ano da gestão de Yeda Crusius (PSDB), eleita em
2006). Que não sejamos objeto de cooptação ou desprestígio, mas que
possamos nos fazer impor com responsabilidade, com políticas públicas
importantes, pela qualidade dos nossos quadros e pela possibilidade de
interlocução partidária com o governo.
JC – Os rompimentos com os governos pesaram agora na escolha dos nomes?
Bolzan -
Muito. Têm que pesar por uma simples razão: essas experiências nos
serviram, em primeiro lugar, para termos quadros fiéis ao partido. Para
termos nomes que tenham compromisso na execução de políticas públicas,
que não passem simplesmente para cumprir carnê. E que sejam quadros que
apliquem a política pública honrando a administração.
JC – Qual foi a análise de PDT e PMDB sobre a derrota?
Bolzan -
Não fizemos uma avaliação conjunta com o PMDB, mas fizemos uma
avaliação nossa, do PDT. Ficou claro que nossa candidatura não
respondeu, em nenhum momento, a tudo que aconteceu durante a eleição.
Como, por exemplo, a onda nacional de crescimento de Dilma Rousseff (PT)
que não foi devidamente interpretada e careceu de uma resposta adequada
durante a campanha. A candidatura do Tarso cresceu junto e não se
esboçou reação a isso. Mantive o mesmo nível, sempre com as mesmas
teses, repetitivamente.
JC - Da neutralidade?
Bolzan -
Nem é a neutralidade. Não houve o conceito de às vezes polemizar, fazer
comparativos, buscar enfrentamento, criar diferenças. Houve uma
acomodação plena. Começou de um jeito e terminou do mesmo.
JC – A campanha decresceu.
Bolzan –
No caso de Yeda, por exemplo, tínhamos expectativa que fizesse 20% dos
votos. E fez. Até dignamente, pois não tinha, do ponto de vista
político, uma eleição com chance de vitória. Essa é a realidade. A
candidatura Tarso não tinha condições políticas de ganhar no primeiro
turno, e o que aconteceu? Quem não correspondeu à expectativa? Uma
manteve o seu perfil, a outra cresceu mais do que deveria crescer. E a
de Fogaça definhou. A estratégia adotada foi equivocada. Não culpo
candidatura, não pessoalizo essas responsabilizações. Responsabilizo o
planejamento.
JC – Houve individualismo na atuação dos partidos?
Bolzan –
Realmente onde havia problemas locais de relacionamento entre os dois
partidos, a campanha não andou. Em alguns municípios, que tinham
situações dessa natureza, andou, mas cada um fez por si. Em outros
municípios, simplesmente se afastaram, não existiu. Essa campanha não
foi de movimento de partidos, que pouco influenciaram. O eleitor também
votou absolutamente independente de qualquer questão programática
ideológica. Votou onde achava que deveria. Elegeu deputados com perfis
regionais, voto do Tarso foi absolutamente generalizado e Dilma não
ganhou aqui. Isso mostra que são situações socialmente injustificadas.
Porém, aconteceram. Provam que os partidos não conduziram a eleição.
JC
– A chapa do PDT ao Piratini foi derrotada, mas o partido manteve seu
número de deputados nas bancadas estadual e federal. A avaliação é de
derrota ou vitória?
Bolzan - Não nos sentimos
derrotados. Ao contrário. Primeiro, pelo processo interno, que foi
politicamente amadurecido. Durante muito tempo se decidiu a poucas
cabeças, num processo de cúpula. Agora, debatemos e consensualmente
decidimos. Depois de muitas reuniões no Estado inteiro, de assembleias
gerais, com todos os diretórios, fizemos um processo que rigorosamente
demandou numa estratégia política. A estratégia era não ter um candidato
ao governo, mas uma candidatura de vice-governador forte, que pudesse
estabelecer um projeto de mais longo prazo, pois não tínhamos conjuntura
para eleger um governador.
JC – Pesou o fato de herdar a prefeitura de Porto Alegre.
Bolzan -
Optamos pela parceria que poderia nos dar dividendos mais rapidamente: a
prefeitura de Porto Alegre (Fogaça precisou renunciar para disputar ao
governo, deixando o posto para o vice-prefeito, do PDT). O partido hoje
está do mesmo tamanho: dez deputados estaduais, 3 deputados federais e
José Fortunati na prefeitura de Porto Alegre. Sai deste processo com
ganhos políticos e boas perspectivas. Do mesmo tamanho que entrou e com o
plus da prefeitura.
JC – Por conta deste novo arranjo, o PT
quer participar da gestão Fortunati. Em se confirmando, como fica o
projeto de reeleição do prefeito se os petistas decidirem ter
candidatura própria em 2012?
Bolzan - Fortunati pediu
para que não se discutisse agora qualquer vinculação a 2012. A pedido
dele, retiramos da pauta, embora essa discussão tenha sido realizada com
o governador.
JC – O PDT também pressiona por mais cargos.
Bolzan -
Fortunati, com toda a razão, deve manter a aliança nos moldes em que
ela foi concebida. O que pode fazer é melhorar algumas situações,
verificando partidos que não estarão na sua base de apoio e fazendo
substituições. Mas o máximo que ele puder preservar o arranjo político,
por uma questão ética, ele deve preservar.
JC – O PMDB da
Capital faz pressões para voltar à prefeitura e agora o PT quer
ingressar. Como Fortunati sairá desta situação delicada?
Bolzan –
Acho que temos que ampliar as forças. Isso não quer dizer que Fortunati
vai romper seus compromissos. Seria muita descortesia ignorar o
processo político que o levou a ser prefeito. Isso não se deve fazer.
Mas ele não pode deixar o processo de discussão com os partidos. No
Estado inteiro, onde o PDT é governo, o PT está pedindo passagem para
ingressar na prefeitura. O contrário também. Não sei no que vai
resultar.
JC - Mas como equilibrar o projeto entre PMDB e PT em Porto Alegre?
Bolzan -
O Fortunati é candidato natural à reeleição. Não temos dúvida. O PMDB
aceitando, vamos trabalhar como prioridade esta questão, afinal, somos
parceiros. Mas o PMDB aceita agregar o PT a esta aliança? Para o PDT é
estratégico manter a prefeitura de Porto Alegre. O espaço nacionalmente
que temos hoje é um ministério. Não ganhamos um governo do Estado. Temos
vários vice-governadores. Mas se sabe quem são? A prefeitura de Porto
Alegre tem que ser o espelho. Tem que executar políticas que
materializem não só a gestão trabalhista como também o próprio
Fortunati. É estratégico o partido pensar assim.
JC – A executiva do PMDB vai buscar retornar à prefeitura. Existe um acordo com o PDT para 2012?
Bolzan –
Não. O que há é um compromisso ético de se levar as forças políticas
que conduziram à vitória do Fogaça e do Fortunati até o final. Agora,
não sei exatamente como vai se dar a composição. O PDT não será
responsável por nada que possa criar problema nesta aliança,
principalmente para o PMDB. Agora, se o PMDB quiser se afastar...
Aprendi na vida política que a agregação de forças que têm projetos
comuns é importante. Se puder agregar forças afinadas, melhor.
JC – No limite, um dos partidos pode se tornar contrário ao projeto?
Bolzan -
Mas onde está a grandeza nesse processo? No PT. Ao ver que possui a
Presidência da República e o governo do Estado pode ceder a prefeitura
para uma aliança com uma postura nova. É um posicionamento não só
politicamente importante, mas estratégico. O PT poderia ter esse
reconhecimento e estar junto com esse grupo para criar um movimento de
forças políticas capaz de chegar quase a um consenso municipal. Esse
gesto não pode partir das forças que estão na prefeitura, mas exatamente
do PT, que sempre levou as eleições de uma maneira mais dura em Porto
Alegre. Seria um gesto de grandeza e mostraria que todo o processo é
novo, completamente diferente do que sempre foi.
JC – Qual é a opinião de Tarso sobre essa aliança?
Bolzan -
Vejo Tarso aberto para esse tipo de negociação. Chegamos a discutir
essa situação, mas Fortunati pediu a retirada da pauta e não tocamos
mais no assunto. Mas tem havido conversas informais.
JC - O PMDB demonstra desgastes com o prefeito, votando contra projetos do Executivo.
Bolzan -
Uma das preocupações que tivemos foi a de acertar com a bancada antes
de ingressar no governo do Estado. Não queremos ter surpresa em questões
polêmicas para não desestabilizar nossos secretários. Queremos ter uma
posição de partido, unida, rigorosamente, com a de fidelidade ao governo
naquilo que for essencialmente acertado. Algumas questões, como o
aumento de impostos, retirada de direito de servidores, encaminhamento
de questões educacionais e outras, foram colocadas para o governador,
que não alimentou nenhuma situação avessa a esse acerto e colocou que
todas as questões importantes passarão pelos conselhos que ele vai
criar.
Perfil
A trajetória política de Romildo Bolzan Júnior é fortemente influenciada pela história de seu pai, Romildo Bolzan. O atual presidente do PDT gaúcho nasceu em 13 de março de 1960, quatro anos antes de seu pai assumir a prefeitura de Osório, em 1964. “Meus fins de semana não eram familiares. Meu pai me colocava no carro e me levava para o interior do município”, relembra. Seu pai elegeu-se deputado estadual pelo Movimento Democrático Brasileiro e foi reeleito outras duas vezes, a última delas pelo PDT. Também foi presidente do Tribunal de Contas do Estado e da Agergs. Faleceu em 2001. Bolzan Júnior formou-se em Direto em 1982 pela PUC do Rio Grande do Sul. Casado com a também advogada Vera Lúcia, tem dois filhos: Gabriela e Romildo Neto. Em 1982, elegeu-se vereador em Osório; em 1988, vice-prefeito e, em 1992, prefeito. Concorreu novamente em 2004, exerceu o segundo mandato e foi reeleito em 2008 para a sua terceira gestão, que se encerra em 2012. Fica na presidência estadual do PDT até abril.Fonte: Jornal do Comércio
Fernanda Bastos e Gisele Ortolan
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